ROMPIMENTOS HISTÓRICOS: Relembre os famosos rachas entre Governadores e seus sucessores desde 1982

A formação de uma chapa é algo que tem de ser feito de forma muito estratégica. Alianças políticas são estruturadas em torno de indicações, similaridades de ideias e acordos que muitas vezes duram por mais de uma geração.

Mas nem sempre essas parcerias duram todo o mandato. Desacordos, brigas e acusações de traição, são algumas das razões colocadas como motivos para o rompimento dessas alianças.

Nessa matéria, o Polêmica Paraíba irá trazer aos leitores, os rachas entre Governadores e seus sucessores desde 1982, que abalaram toda a estrutura política da Paraíba.

Wilson Braga e Tarcísio Burity

A eleição de 1982, foi a primeira na qual os paraibanos tiveram direito à dar seu voto ao Governo após 17 anos, no qual o Governador era indicado de forma indireta durante a Ditadura.

O pleito de 82 teve o retorno do pluripartidarismo, com as principais legendas sendo o PDS (legenda com apoio de nomes ligados a Ditadura) e o MDB (que se colocava como o principal partido de oposição).

Aqui na Paraíba, a eleição foi uma vitória avassaladora do PDS, que elegeu 24 dos 36 Deputados Estaduais, 7 dos 12 Federais, o Senador Marcondes Gadelha e o Governador Wilson Braga, com o apoio do ex-Governador Tarcísio Burity, que havia deixado o cargo para se candidatar a Câmara Federal, sendo o mais votado com mais de 173 mil votos.

Mas a lua de mel durou pouco entre Burity e Braga, o que ressonou no pleito seguinte, no qual Burity se colocou como candidato das oposições no MDB, enquanto o Governador indicou o Senador Marcondes Gadelha como seu sucessor pelo PFL.

Burity venceu a eleição com 61,27% dos votos, em um pleito que destronou Wilson Braga e o PFL, com o Governador sendo apenas o terceiro no pleito ao Senado e o MDB dominando a Câmara e a Assembleia.

Tarcísio Burity e Ronaldo Cunha Lima

Após a vitória de Burity em 86 se esperava uma parceria que duraria por muitos anos, mas a turbulenta relação do Governador com os outros caciques do partido, culminou em uma conflituosa saída do MDB em 1989.

Em carta endereçada a Humberto Lucena, o Governador relatava entre outros motivos, de que a bancada de Deputados do partido trabalhava contra o Governo, ficaria no cargo até o seu final e que apoiaria um nome contrário ao de Ronaldo Cunha Lima.

O escolhido foi João Agripino Maia que ficou em terceiro lugar na disputa ao Governo, com Wilson Braga do PDT vencendo o primeiro turno contra Ronaldo por uma margem de pouco mais de 3% dos votos.

No segundo turno, Ronaldo Cunha Lima soube costurar bens as alianças e atraiu João Agripino Maia para seu lado, mesmo a contragosto de Burity, o que se tornou um fator preponderante para a sua virada, com Ronaldo vencendo o segundo turno com 55,1% dos votos.

Ronaldo Cunha Lima e José Maranhão

Esse rompimento é um tanto quanto diferente dos outros citados até agora na matéria.

O Governo Ronaldo não foi diferente dos anteriores e terminou de forma turbulenta. Em 5 de novembro de 1993, o Governador atirou três vezes no ex-Governador Tarcísio Burity, em um restaurante da capital, no crime que ficou conhecido por Caso Gulliver.

Os tiros foram disparados em reação às supostas críticas que Burity teria feito a Cássio Cunha Lima, então superintendente da Sudene.

Mesmo com toda essa polêmica, a popularidade de Ronaldo se manteve em alta, com o Governador se licenciando do cargo para disputar o Senado, sendo o mais votado dentre os dois Senadores, ao lado de Humberto Lucena.

Já na disputa ao Governo, o vencedor foi Antônio Mariz tendo José Maranhão como seu companheiro de chapa, o que se mostrava a força do MDB no estado.

Com o falecimento de Mariz em setembro de 95, quem assumiu o mandato foi Maranhão. Por um tempo a harmonia se manteve entre o Governador e Ronaldo Cunha Lima, mas tudo ruiu oficialmente em 21 de março de 1998, durante o aniversário de Ronaldo no Clube Campestre em Campina Grande.

Incomodado com a pouca influência dentro do Governo Maranhão, Ronaldo acusou o Governador de descumprir compromissos políticos e desprezar Campina Grande, chegando a declarar que, se Maranhão não tivesse condições de governar, ele próprio assumiria o comando.

Isso somado à vontade de Ronaldo emplacar Cássio como candidato ao Governo, culminou no racha do partido, ocasionando a saída do clã Cunha Lima e seus aliados do MDB rumo ao PSDB, abrindo espaço para Maranhão se candidatar à reeleição, vencendo Gilvan Freire com mais de 80% dos votos.

Cássio Cunha Lima e Ricardo Coutinho

O racha entre Cássio e Ricardo se assemelha com o de Ronaldo e Maranhão por eles não serem os Governadores na sequência literal e pelo rompimento ter acontecido após a eleição.

Após a vitória de Cássio contra Roberto Paulino em 2002 e a sua reeleição em uma disputa épica contra Maranhão em 2006, Cássio se encaminhava para o fim do seu segundo mandato, quando foi cassado em 17 de fevereiro de 2009, enquadrado na nova Lei da Ficha Limpa.

Quem assumiu o cargo foi José Maranhão, que via como principal adversário à reeleição o Prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho.

Essa nova configuração ocasionou na parceria entre Ricardo e Cássio, na qual Coutinho acabou se tornando Governador no segundo turno, enquanto Cássio foi eleito o Senador mais votado.

Durante o mandato de Ricardo sempre se manteve nas entrelinhas a conversa de que um rompimento entre os dois aconteceria em algum momento e isso se confirmou em fevereiro de 2014, com o afastamento do Vice-Governador Rômulo Gouveia do Governo e a pré-candidatura do próprio Cássio ao Governo.

Os dois se enfrentaram em uma disputa bastante acirrada, com Cássio vencendo o primeiro turno e Coutinho dando o troco no segundo, amparado pelo apoio de José Maranhão e Vitalzinho (candidato pelo MDB no primeiro turno).

Ricardo Coutinho e João Azevêdo

Perto do fim do segundo mandato de Ricardo, no momento no qual o Governador se encontrava no seu pico de popularidade e aprovação, duas perguntas norteavam a política paraibana: Ricardo vai se candidatar ao Senado? Quem será o sucessor de Ricardo?

O segundo questionamento foi respondido em julho de 2017, quando o Governador anunciou oficialmente que o Secretário João Azevêdo seria seu candidato, surpreendendo a muitos no meio político, pela inexperiência de João em disputas políticas.

E essa inexperiência de João acabou sendo um dos motivos para que Ricardo respondesse à primeira pergunta, pois o Governador preferiu não disputar o Senado, para focar seus esforços em ajudar Azevêdo na campanha.

Essa aposta deu certo, com João sendo eleito ainda em primeiro turno ao atingir pouco mais de 58% dos votos.

A união entre os dois parecia algo que duraria por muito tempo, vide a relação de amizade que João e Ricardo compartilhavam por mais de 30 anos, mas brigas internas ocasionadas por demissões de aliados de Coutinho e a Operação Calvário, minaram a relação entre os dois, culminando no rompimento em dezembro de 2019.

Fonte: Vitor Azevêdo
Créditos: Polêmica Paraíba