Paraibana e professora doutora da UFPB, Amanda Braga e o professor doutor, Carlos Piovezani da UFSCar lançam o livro “A fala feminina: silenciamentos e resistências” - BLOG DO GERALDO ANDRADE

Paraibana e professora doutora da UFPB, Amanda Braga e o professor doutor, Carlos Piovezani da UFSCar lançam o livro “A fala feminina: silenciamentos e resistências”


Ao longo da história, a fala das mulheres foi sistematicamente deslegitimada, interrompida e ridicularizada. Em A fala feminina: Silenciamentos e resistências, a professora doutora do Departamento de Língua Portuguesa e Linguística e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Amanda Batista Braga e o professor doutor do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos e pesquisador do CNPq, Carlos Piovezani analisam os mecanismos que limitaram a presença feminina na esfera pública, desde a Grécia Antiga até os desafios enfrentados pelas brasileiras no século 21. O livro está disponível para aquisição no site da editora Jandaíra.    


A professora doutora da UFPB, Amanda Braga é autora de diversos artigos científicos, capítulos de livros e livros. Entre suas principais publicações estão: "A fala feminina: silenciamentos e resistências (Jandaíra, 2025), "Discursos e desigualdades: cartografar com Foucault" (Pontes, 2024), "A dimensão política da língua(gem): perspectivas da Linguística Aplicada e das Teorias do Discurso" (Pontes, 2024), "Por uma microfísica das resistências: Michel Foucault e as lutas antiautoritárias na contemporaneidade" (Pontes, 2020) e "História da beleza negra no Brasil: discursos, corpos e práticas" (EdUFSCar, 2015).

Com apresentação da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), texto de contracapa da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) e prefácio da professora emérita da Universidade de Toulouse, na França, e especialista em relações entre gênero, linguagem e política, Marlène Coulomb-Gully. A obra percorre os diferentes períodos históricos de repressão à fala das mulheres e as lutas feministas para romper essa exclusão. Ao destacar figuras como Marielle Franco, o livro revela como o direito à palavra está diretamente ligado à cidadania, ao poder e à democracia. 


O livro traça um panorama histórico dos menosprezos, deslegitimações e interdições da fala de mulheres desde a Antiguidade clássica até o cenário político brasileiro da atualidade. Os autores tratam desde as tentativas de interdição e do menosprezo pelo que as mulheres dizem, passando por violências físicas e simbólicas, até os feminicídios. Com base em fontes históricas, literárias e sociopolíticas, os autores examinam como o patriarcado construiu estruturas para silenciar as mulheres — e como, ao longo dos séculos, elas responderam com resistência, criatividade e estratégia.


O livro também traça paralelos entre figuras antigas e contemporâneas que enfrentaram — e ainda enfrentam — múltiplas formas de silenciamento e apagamento simbólico. São exemplos atuais apresentados no livro nomes como a jornalista, escritora, ex-vereadora, ex-deputada estadual, ex-deputada federal e ex-candidata a vice-presidenta,  Manuela D’Ávila, a militante feminista, ex-vereadora e deputada federal (PSOL-SP), Sâmia Bomfim e a socióloga, ativista, feminista e ex-vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) do Rio de Janeiro,  Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018 aos 38 anos, junto de seu motorista, Anderson Pedro Mathias Gomes. 


Foi justamente por isso que Marielle Franco, mulher negra, empobrecida, defensora  dos direitos humanos, “cria da favela” e cheia de coragem para falar o que fosse preciso em defesa de subalternizadas/os, teve de dizer e repetir: “Não serei interrompida!”. Por ser quem era, por fazer o que fazia e por dizer o que dizia, Marielle Franco foi brutalmente assassinada.


Homens poderosos tentaram calar sua voz. Não conseguiram. Desde sua morte, não paramos mais de dizer e de ouvir: “Marielle vive!”, “Marielle presente!”. Em março de 2019, Marielle Franco foi postumamente agraciada pelo Congresso Nacional do Brasil com o Diploma Bertha Lutz, concedidos a mulheres que tenham oferecido relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher e questões do gênero no Brasil.


Entre os casos mais emblemáticos está o de Dilma Vana Rousseff. Economista, ex-Secretária Municipal da Fazenda de Porto Alegre, ex-Ministra de Minas e Energia, ex-Ministra-chefe da Casa Civil, ex-militante contra a ditadura militar, primeira mulher a presidir o Brasil e atual presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos BRICS), Dilma Rousseff foi alvo de uma intensa campanha de deslegitimação. Seus pronunciamentos foram distorcidos, sua competência foi constantemente questionada e sua imagem, ridicularizada — num processo de ataque marcado por misoginia, conservadorismo e interesses políticos.


Segundo os autores, o livro retraça a história de interdições da fala das mulheres, sobretudo no espaço público, assim como examina as lutas femininas e feministas pelo direito à fala pública e à escuta respeitosa de suas palavras. Machismos e misoginias sempre tentaram a todo custo afastar as mulheres do espaço público.


De acordo com a professora doutora da UFPB, Amanda Braga, foram cinco anos de trabalho que resultaram em uma obra com mais de 400 páginas. A autora esclarece que houve uma motivação teórica e uma motivação política para a redação do livro. A teórica partiu do diagnóstico de Carlos Piovezani na obra “História pública da fala”, que apontou uma divisão sexista que resultou na exclusão das mulheres do campo da oratória. A outra motivação para a obra foram as articulações políticas que resultaram no impeachment de Dilma Rousseff do cargo de Presidenta do país, e os ataques à fala de Dilma.


“Para exemplificar, basta que citemos o livro Dilmês: o idioma da mulher sapiens, do jornalista Celso Arnaldo Araújo. Trata-se de um livro inteiramente dedicado a depreciar e a satirizar a fala pública de Dilma. São textos que não apenas decretam a impossibilidade, historicamente construída, de que uma mulher possa estar em lugares de poder e autoridade, como também reverberam a enorme dificuldade de se reconhecer alguma competência na fala pública das mulheres”, assegurou a autora.


A professora doutora da UFPB, Amanda Braga resume alguns exemplos de silenciamento feminino ao longo da história: na antiguidade, os exemplos podem ser vistos na literatura que em diversas obras, como na Odisseia de Homero, há passagens que afirmam que as mulheres deveriam calar-se por não terem competência para falar em público. A autora assinala também os trabalhos de Aristóteles sobre a história natural, que distingue a voz de homens e mulheres, considerando a voz masculina como grave e intensa, o que indicaria coragem, enquanto a voz das mulheres, por seu turno, seria aguda e fraca, o que indicaria covardia.


“Eu costumo dizer que os silenciamentos que se abatem, hoje, sobre a fala das mulheres na política seguem um roteiro: primeiramente, tenta-se impedir que as mulheres ocupem os espaços de fala; mas se elas ocupam, tenta-se impedir que elas efetivamente falem; mas se elas falam, então tenta-se impedir que sejam ouvidas; mas se as escutam, tenta-se impedir que acreditem naquilo que dizem. Agora, se elas ocupam esses espaços, falam, são ouvidas e legitimadas em seus pronunciamentos, formas de silenciamento mais brutais são acionadas. Precisamos lembrar o que ocorreu com a vereadora que subia à tribuna para dizer “Não serei interrompida”, afirmou a professora doutora, Amanda Braga.





Abdias Duque de Abrantes Advogado, jornalista, servidor público, graduado em Jornalismo e Direito pela UFPB e pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP), que integra a Laureate International Universities.


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