Conab nega influência do governo em leilão de arroz vencido por empresas que não têm ligação com o cereal - BLOG DO GERALDO ANDRADE

Conab nega influência do governo em leilão de arroz vencido por empresas que não têm ligação com o cereal

Foto: Google Street View

Três das quatro empresas que compraram 263,37 mil toneladas de arroz no primeiro leilão da Companhia Nacional de Abastecimento(Conab) não têm qualquer ligação com o cereal.


A Wisley A. de Sousa Ltda é uma loja de queijos de Macapá, capital do Amapá; a Icefruti Indústria e Comércio de Alimentos Ltda é uma fábrica de sucos e sorvetes de Tatui (SP); e a ASR Locação Venda Maquinas Ltda, do Distrito Federal, aluga e vende veículos agrícolas. A Zafira Trading é a única do ramo, atua na venda de grãos. Localizada em Florianópolis (SC), adquiriu 73,827 mil toneladas.


A fábrica de sucos e sorvetes levou 22,5 mil toneladas em dois lotes, enquanto a locadora de máquinas comprou 19,740 mil toneladas de arroz, também em dois lotes. Essa já participou de outros leilões da Conab, segundo a companhia. Já o comércio do norte do país que tem o nome fantasia de “Queijo Minas” estreou nos certames e arrematou o maior volume de arroz. Foram 147,303 mil toneladas distribuídas em seis lotes, o que vai resultar em R$ 736 milhões pagos pela Conab.


Só que para garantir a continuidade do processo – e o pagamento do dinheiro após a entrega do arroz importado – as empresas precisam apresentar uma garantia de 5% do valor total até o dia 13 de junho. No caso da Wisley, são R$ 36 milhões de reais, bem superior ao capital social informado pela empresa no site da Receita Federal, de R$ 5 milhões.


Em entrevista ao Agro Estadão, o diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, diz que a companhia não está preocupada com o fato de a empresa de Wisley ser desconhecida e com o risco de ela não ter capital suficiente.


“As Bolsas são responsáveis por verificar a regularidade das empresas”, afirmou. “Nós só ficamos sabendo quem são as empresas quando os corretores fazem a ata do leilão, no final”, completou o executivo.


Segundo ele, se a garantia não for apresentada, o negócio não será efetivado e, se for preciso, se fará outro leilão. “Estamos bem seguros com a operação. Não existe entrega de produto errado na Conab. Ou entrega ou não entrega”, explica . “Em hipótese alguma, nós teremos prejuízo nessas operações feitas quinta-feira, 6 ou em qualquer outra”, completa.


Bolsa de Mercadorias que representou três empresas em leilão da Conab é de ex-assessor de Neri Geller


As operações das empresas ASR, Icefruit e Zafira Tranding no leilão de arroz foram feitas pela mesma Bolsa credenciada na Conab. A Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) já participou de outros leilões da companhia, como de frete e de grãos.


A BMT foi criada em maio de 2023, por Robson Luiz Almeida de França. O empresário já trabalhou no gabinete na Câmara dos Deputados de Neri Geller, que fez carreira política em Mato Grosso e já foi ministro da Agricultura em 2014 e secretário de Política Agrícola do Mapa em 2013 e de 2016 a 2018, mesmo cargo que ocupa atualmente. No Portal da Transparência da Câmara, França aparece como secretário parlamentar de Geller entre dezembro de 2019 e julho de 2020.


O diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos – que também já foi assessor de Geller de 2019 a janeiro de 2023, disse que o fato é uma coincidência. “Tinha seis bolsas participando do leilão, mas só duas apresentaram lances”, afirmou. Segundo ele, a BMT foi cadastrada no ano passado, junto com outras duas novas bolsas, totalizando 13 participantes do mesmo ramo.


Questionado se a ligação poderia influenciar ou facilitar a operação do leilão de arroz, o executivo da Conab explicou que “as empresas podem escolher qualquer bolsa”.


Procurado pelo Agro Estadão, o secretário Neri Geller disse que não sabia que o ex-funcionário tinha participado do leilão e negou qualquer interferência. “Zero ligação. Não consigo ver onde eu poderia influenciar ou ajudar. É bolsa de valores!”, afirmou.


Robson Luiz Almeida de França, da BMT, não atendeu às nossas ligações nem respondeu às mensagens.



Fonte: Estadão Agro